segunda-feira, 12 de março de 2012

Garrafas de vinho, palavras ao vento


Sou eu quem deixa a toalha molhada em cima da cama. Quem dorme com os olhos em chamas e rega com lágrimas a fronha do travesseiro. Adubo para o desespero. Sou eu que, sem saber o que fazer com a capacidade de ler o outro, abdica de ler a si. E não lê. E nem diz quem é.
Saber quem se é, é ter que afirmá-lo pra si mesmo. E a qual preço.
Procuramos o caminho do meio. Alimentamos nossos próprios anseios e fugimos de nossas maiores dores. 
Achamo-nos livres. E de dentro de nossa liberdade, vemos um mundo lá fora. Um mundo que não se define. Cuja felicidade é a nova TV  - no carnê, em 36 vezes.
Esse texto, ninguém lê. E quem lê não se importa.
A caverna do outro é só dele. Deixe-o preso por lá. Liberdade é a caverna de cada um.
Dizer-se livre, mas livre de quê? Do que precisamos nos redimir? A qual preço.
Garrafas de vinho e palavras ao vento. Ditas com a mesma intensidade que a fumaça do cigarro.
O que nos sufoca? O que nos mata?
Dormir e acordar é o que chamamos de vida. Entediante, eu sei.  Mas entediante o suficiente para não querer dar cabo a ela.
Ela que é sempre tão incerta e tão bela. Tão nociva e tão chata. Tão repleta de senões, e tantos nãos. E tantas mãos que, entrelaçadas, significam o mesmo que nada. Mas dela, ninguém quer de fato morrer.
Quem o faz, deixa cartas. E roga para que sejam lidas antes do juízo final.
Um carrinho de emergência e movimentos de ressuscitação. Quem quer voltar?
Dormir e acordar. Ser. Sonhar.  

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