terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Recordações


Há quem diga que estou sempre com saudade. Estou aqui, querendo estar lá. E de lá, quero acolá. Saudade é praticamente uma condição inerente a mim. Saudade de alguém, de um lugar, do que vivi e do que nem tenho ideia, mas que está por vir. Sinto saudade do cheiro de chuva, do perfume de rosas, do blush da avó, da colcha de retalhos. Da bicicleta azul de rodinhas e da dor do joelho ralado. Saudade da fada do dente, do pão molhado no leite quente de manhã e de todas as vezes que fui esquecida na escola. Saudade do primeiro amor, do primeiro beijo e das amigas da infância. Das brincadeiras nas férias, das guerras de travesseiro e dos castigos, por terem essas, virado guerras de verdade. Saudade de não ter que sentir nada, fazer nada, apenas ver o tempo passar. Saudade do pé em água e sal depois de horas de ensaio. Saudade até das broncas que levei. Das aulas da faculdade que matei pra tomar cerveja no boteco às 10 da manhã. E das sinucas até altas horas, quando as aulas passaram a ser noturnas. Saudade dos amigos que fiz e dos que se desfizeram ao longo do tempo. Saudade daquela viagem, daquela cidade, daquele país. Das noites nos bares cantando a vida, chorando a dor ou com cólicas de tanto rir dos amigos palhaços – geralmente todas essas sensações na mesma noite, e em mais de um idioma, dependendo do grau etílico. Saudade de me apaixonar, de chorar por amor, de me entregar. Das noites eternas, dos dias vazios, dos telefonemas mais que bem-vindos de quem não se fala há tempos. Da febre noturna. Da carência diurna. Das discussões filosóficas. Das brigas sem sentido. Saudade dos amigos em casa. De pipoca de madrugada e romance bobo na TV. Saudade do desconhecido. De todos os conhecidos. De quem veio, foi, está e ainda está por vir.