quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Prelúdio

Existem momentos em que a vida parece perder a força. 
Momentos em que o tempo parece querer lhe contar um segredo. 
E é preciso não mais que um profundo silêncio para ser capaz de entendê-lo.
Existem momentos em que essa montanha russa diminui a velocidade e se acalma. É quando ouve-se o vento e abre-se os braços para um abraço, longo, demorado. E os olhos se fecham e passam a enxergar o que está dentro e não mais o que está adiante. 
Existem esses momentos, da pausa, do descontrole do tempo. Dos segredos que a vida pede para te contar, mas que você nunca para para ouvir. 
Esses momentos, que não significam falta de vida, mas um respiro. Um prelúdio.
Existem momentos que a vida pede para que paremos de ter força. Para sermos acolhidos por essa força que nela já existe. 

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Leve


A crueldade do mundo assusta. Sufoca. 
Tantas palavras ditas e outras tantas mal ditas. 
Por vezes, o medo de fechar os olhos e ser sugada para outra dimensão. 
Por outras, o desejo que o vento leve, branda e leve, como pluma. 
O que se disse, já fora esquecido. O que não disse, arrependido. 
O que se sente é como uma arma, apontada para o próprio peito. 
Uma bala e vários sentimentos.
Uma roleta russa. Um escuro. Um nada. 
De olhos fechados, sinto o desejo, correndo quente e obstruindo as veias. 
De peito aberto, falta espaço para que o ar entre.
A crueldade do mundo cala. 
Tantas palavras que não são ditas. 
O mundo diz não. O mundo não diz. 
Você sorri. E sufoca. E cai.
E como pluma, branda e leve, o vento leva. 
E espera algum gozo no final.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

(Re)Significar-se


Se de amor adoeço, de amor não padeço. 
É no amor que encontro forças e me reinvento. 
Me resignifico. 
Não no amor do outro, que é por vezes egoísta e incerto demais. 
No meu. Errante, frágil, inteiro ou pelas metades. 
Amor pelos sonhos. Pela arte. 
Amor por qualquer coisa que dê sentido aos dias. 
Nele, me redescubro. 
Sobre ele, caminho. 
Em suas águas, mergulho.
Em seu furor, alço voos.
No seu torpor, durmo. E sonho.
Na sua brutalidade, desperto. 
Como ele, vivo.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Inerte

Da música que cessou, fez-se o silêncio. 
Do sol que se escondeu, fez-se a escuridão.
Do tudo que virou nada, fez-se o vazio. 
As flores murcharam. Os pássaros emudeceram. 
O encanto se escondeu. Os sonhos se quebraram.
O corpo vazio, inerte, nada sente. 
O pulso não pulsa. O coração não bate. 
Fez-se o nada. Silencioso. Escuro. Vazio. 


quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Do silêncio

Céu escuro. Nuvens cinzas insistem em cobrir o azul. É possível enxergar algum azul, mas o cinza persiste.

Esse céu me é familiar. Já o vi em alguns sonhos. O cenário era outro, mas o céu era esse. Era uma praia e havia um anjo. Suas asas eram negras. Ele me observava, de longe, agachado em uma pedra, no mar. Entre nós, nada além do silêncio.

Esse sonho se repetiu uma, duas vezes. O tal anjo nunca me disse nada. Os únicos barulhos existentes eram do vento, vez ou outras das ondas e do meu pensamento incessante.

Não ousei dirigir-lhe a palavra. Nada disse, ou indaguei. Estava lá. Eu, o mar, o anjo negro, as nuvens. Por alguns momentos, me esqueci até dos meus próprios pensamentos. Talvez fosse uma forma de aprender a ouvir o silêncio. Talvez, uma oportunidade de aprender a lidar com os meus próprios demônios.

Mas era um anjo. E seu rosto me era familiar. Mas meus olhos se recusavam a querer reconhece-lo. Apenas o observavam, curiosos, e em silêncio.

A praia, extensa e deserta, parecia um infinito de uma coisa só. Não havia espaço para nada além do que lá já existia. Era tudo perfeito dentro de uma grande incompreensão. E por hora, nem incompreensão havia. Não havia nada. Apenas o vazio habitado pelas pedras. Pela areia. Pelo anjo de asas negras. Por mim.

Não me restava nada a não ser caminhar. Não sentia calor nem frio. Havia algo de confortante.

Tentei me aproximar, mas à medida que eu caminhava em sua direção, ele simplesmente aparecia em outro lugar. Longe. Então entendi que aquele espaço não podia ser encurtado. Entendi que não havia nada que pudesse compreender apesar de tudo parecer incompreensível demais.

Não me opus. Não relutei. Apenas estive.

Naquele lugar de nuvens cinzas, de barulho das ondas, de um anjo de asas negras. Onde a única coisa que reinava absolutamente era o silêncio. Silenciei-me. 

sábado, 17 de agosto de 2013

O último dia

Hoje é o último dia da minha vida. O céu amanheceu cinza. O sol acordou com sono. O vento, atordoado, ecoa na janela. Cheiro o café que ainda não foi feito.

Hoje poderia ser o último dia da minha vida. O feixe tímido de luz invade o buraco da cortina. Os sons. As sombras. Passei a gostar de roxo. E o café ainda não foi feito.

Hoje é o último dia da minha vida. O som da água que ferve. O cheiro do café frasco do vizinho. Luzes que não se acendem. Olhos que não querem abrir. 

Sinto. Cheiro, tato. Escuto. 

Hoje poderia ser o último dia da minha vida. Enquanto isso, vivo. E o hoje se acaba. 

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Nada

No fundo, essas teorias todas, já sei de cor. Frases feitas e consolos prontos. Que a vida é um grande mistério, profundo e fundo. Dos jogos, das brincadeiras vazias e tão falsas. Coleciono teorias e definições. Desculpas infalíveis para a falta de certeza. Observo formas e experiências rasas. Desculpas esfarrapadas de quem não se coloca. De quem nunca está pronto porque nunca se entrega. Espero a oportunidade de ser de verdade. Me contento com a felicidade alheia, tão pequena e burra que cabe num copo e se vai em um gole. Uma golada e um mijo. Essas verdades todas se vão no mijo. As formas tão bonitas e arrumadas. Tão perfeitas e mudas. Em tudo, um grande silêncio. Que ecoa em euforias gratuitas. Que findam em nada e se acabam em mim. 

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Amores que vêm e que vão

                                                                   Foto: Adilson Vieira


Se venho até a sacada do quarto e tento ver a lua, nesse céu quase azul de outono, penso que quase posso plagiar aquele que diz que não existe amor em São Paulo. Talvez de fato não haja. 

Mas se é para falar de amor, prefiro pensar nos que não tive. Daqueles que vêm e que passam, depois de um gole de vinho, ou vários. Ah, se essa sacada falasse e pudesse contar meus segredos, ou ainda contabilizar minhas lágrimas de noites de pura solidão. 

Sou daquelas que flerta com cada gole de cerveja e escolhe um amor com quem vai passar a noite. Uma noite, algumas talvez. Mas nunca noites demais para ser um amor daqueles que fazem jus a esse nome. Amores que acontecem na noite e acabam na manhã seguinte. E quando o fim de semana se vai, a cama permanece vazia, edredon e travesseiro, e de lembranças, as cinzas dos cigarros. 

domingo, 26 de maio de 2013

Das sombras

E queria então me apaixonar por tudo que sonhei em vão. 
Uma cidade, um vazio, um lugar.
Um conto feito de notas desconexas. 
De partituras em branco. Sem rimas ou afetos.
As noites escuras e as sombras de feliz solidão.
E nos dias em que o sol brilha de pura teimosia, apodreço. 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

À mimimizice, à firulice, um basta


Quero propor o fim da firulice. Da coisa do disse-não-disse. Desse negócio de ter que decifrar. Justo eu, que tanto falo e pouco digo. E é exatamente por isso. Cansei dos dias de entrelinhas. Proponho um dia de liberdade. Dizer tudo. O que sente, o que quer, o que não quer, quanto custa. Tudo abertamente assim. Sem espaços prévios para negociações. Quero propor um tempo ao pudor, essa coisa mimizenta e tão chata. Às convenções, aos jogos.

Quer falar com alguém, pega o telefone e liga. Não quer falar com outro alguém, atende o telefone e diz. Ama? Diga. Quer estar perto? Fale. Quer tomar um café com o amigo que não vê há tempos? Convide. E aproveite para dizer a razão da distância, se essa razão existir. Ou se prepare para dizer que nada de grave aconteceu para você sumir. Que você nem está trabalhando tão duro assim, que tem sobrado tempo, mas que só pensou em ligar hoje. Porque é assim que acontece. Não premeditamos tudo. Certas coisas simplesmente são.

Proponho por pra fora todas essas coisas que sentimos. Todas essas que, por convenção, a gente guarda. O que há de errado com o que é simples? Se Maria sente o “gostar” e diz que gosta e o João não o sente, que ele diga que não gosta e pronto. Tão simples. Mas ao invés disso, a Maria não pode dizer ao João que gosta, porque se o João souber que a Maria gosta, vai fazê-la de gato e sapato e não vai valorizá-la. Então ela tem que ser firme e fingir que não gosta pra ver se assim desperta o gostar nele. E ele tem que continuar bancando a conveniência. Qual o sentido?

Por que é tão errado dizer o que se sente? Por que não pode? Será que não nos damos conta de quanto lixo guardamos por mera convenção? Desse lixo de letras não ditas e frases não formadas. Dessas doenças causadas pelo lixão que mantemos na alma. Um basta!

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Uma breve reflexão sobre o que não se vive mais: o passado


Sim, todos sabemos que passado é um tempo verbal que já se foi. Uma estrada pela qual passamos e que findou num baú que guardamos com algum orgulho, ou alguma dor.

Que atire a primeira pedra quem nunca colocou a cabeça no travesseiro querendo fazer de novo aquilo que se fez e não deu certo. Ou quem nunca chorou pensando naquele dia que poderia se repetir. Ou ainda quem não se pegou querendo, por favor, mais um pedaço daquele pudim. Daquele, lá de trás. Pois você pode até comer um outro agora, do mesmo jeito, mas aquele sabor lá, aquele, já se foi.

Muita coisa se foi mas continua guardada como uma coleção nesse baú chamado memória. E por mais que se tenha total consciência que o ponteiro do relógio não anda para trás, vez ou outra esse baú é visitado. E revisitado se preciso for.

E aí, quando a memória parece ser tão mais real do que uma simples memória, a vontade de trazê-la de volta é angustiante. É como uma tentativa muito forte de ressuscitar alguém que já está gelado de morte. 

Sim, o passado mora longe demais. E pensar em qualquer coisa que poderia ter sido feito diferente para que ele não fosse passado, apesar de ser às vezes um exercício constante, é só uma receita para trazer mais dor.

Algumas dores desse passado, talvez não tenham sido curadas desse tanto. As cicatrizes continuam abertas a seu modo. E qualquer movimento pode reabrir a tal ferida e demorar o dobro para que se faça uma nova pele, fina e frágil. E é melhor que o sangue não jorre.

Às vezes tudo o que se quer é um pó mágico para dormir e acordar naquele dia. Ou uma outra magia, que faça esquecer. Em algumas circunstâncias, o passado é cruel demais para ainda habitar nossa memória. Nossas paredes brancas e nossas noites vazias. Uma dose para o esquecimento eterno. E noites de paz, por favor. 

terça-feira, 26 de março de 2013

Essa vã filosofia de botequim em noites de insônia


E já que o assunto é filosofia, a minha, tão vã, tem sido levantar da cama todos os dias. O relógio bate 10, depois 13, às vezes 16 ou até 17. Quem sabe 18, quando a sirene da fábrica toca. Essa luta implacável entre o travesseiro e a luz do dia. Essa coisa de respirar fundo e tentar.

E por falar em respirar, descobri recentemente que respirar dói. Muito. Não essa coisa que fazemos inconscientemente do ar entrando e saindo de qualquer jeito. Respirar dói e definitivamente, eu não sei fazê-lo.

Voltando ao sono. Cristãos poderão chamá-lo de pecado. Eu, pecador,  e o alimento diário para um dos capitais chamado preguiça. Eu o chamo filosofia. A coisa do ser e não ser. A coisa do não querer. A pergunta que se faz quando se está lá, inerte, respirando razoavelmente bem, é qual a diferença que alguém pode fazer no mundo. Tanto faz se está dormindo ou acordado, desde que não tenha uma ocupação social naquele período. Sendo assim, a diferença é nula. E a filosofia é quase de botequim.

E a mim resta saber o que faço eu no mundo. Essa coisa cheia de carne e gordura e cheia de pensamentos vis. Pensa tanto que se cansa de pensar. E dorme. Mais um cochilo. Três horas depois, já está a pensar qualquer coisa outra que canse o suficiente para dar fome.

Um parágrafo de um livro depois e são apenas palavras, combinadas e misturadas que não dizem nada. Nada faz sentido. Não me lembro nem da última que li. Palavra, digo. Quando mais a frase ou o parágrafo todo.

E já que o assunto é filosofia, a minha, tão vã, tem sido me livrar dos pensamentos às 2 da manhã. Ou às 3, ou às 6, quem sabe. Daqueles pensamentos que levam a lugar algum. De outros que partem de vários lugares que prefiro não retornar.

E por falar em não retornar, melhor dormir que tudo passa. 

sexta-feira, 15 de março de 2013

Espectros


Essa coisa visceral que, de vez em quando entra em transe. Surtos de insanidade e sanidade demais. Medo que não pede abrigo. Que pensa sem pensar no perigo. Que paira no ar. O ar.

Um dia de cada vez e alguns uma eternidade. Efêmera demais para uma vida só. Morbidade,  monotonia, a falta de fé e o excesso dela.

Inquietude. Não saber onde colocar as mãos. Ou os pés. E de quando em quando, trocar um pelo outro.  O dia cinza. O sol escaldante. As cores que pairam e param. Ser um e ser dois. Ser todos em um.

O pensamento vazio. Uma coisa qualquer. Uma metade inteira. Um completo vazio. Pensar demais e não dizer. Falar muito sem pensar.  Essa coisa meio cá, meio lá. Meio de lugar nenhum. Meio para qualquer lugar.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Recordações


Há quem diga que estou sempre com saudade. Estou aqui, querendo estar lá. E de lá, quero acolá. Saudade é praticamente uma condição inerente a mim. Saudade de alguém, de um lugar, do que vivi e do que nem tenho ideia, mas que está por vir. Sinto saudade do cheiro de chuva, do perfume de rosas, do blush da avó, da colcha de retalhos. Da bicicleta azul de rodinhas e da dor do joelho ralado. Saudade da fada do dente, do pão molhado no leite quente de manhã e de todas as vezes que fui esquecida na escola. Saudade do primeiro amor, do primeiro beijo e das amigas da infância. Das brincadeiras nas férias, das guerras de travesseiro e dos castigos, por terem essas, virado guerras de verdade. Saudade de não ter que sentir nada, fazer nada, apenas ver o tempo passar. Saudade do pé em água e sal depois de horas de ensaio. Saudade até das broncas que levei. Das aulas da faculdade que matei pra tomar cerveja no boteco às 10 da manhã. E das sinucas até altas horas, quando as aulas passaram a ser noturnas. Saudade dos amigos que fiz e dos que se desfizeram ao longo do tempo. Saudade daquela viagem, daquela cidade, daquele país. Das noites nos bares cantando a vida, chorando a dor ou com cólicas de tanto rir dos amigos palhaços – geralmente todas essas sensações na mesma noite, e em mais de um idioma, dependendo do grau etílico. Saudade de me apaixonar, de chorar por amor, de me entregar. Das noites eternas, dos dias vazios, dos telefonemas mais que bem-vindos de quem não se fala há tempos. Da febre noturna. Da carência diurna. Das discussões filosóficas. Das brigas sem sentido. Saudade dos amigos em casa. De pipoca de madrugada e romance bobo na TV. Saudade do desconhecido. De todos os conhecidos. De quem veio, foi, está e ainda está por vir.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Menina


Sentiu o coração palpitar. Faltou-lhe ar. Despertou do sono, um pesadelo.
À sua volta, escuro. Puxou o ar que faltava, desespero.
Sentiu fincar a dor. Lembrou que não era sonho. Sentiu de novo a dor.
Dor que não lhe pertencia, mas lhe doía.
E saber que a dona da dor a sentia tão mais intensamente, doía.
Decidiu querer ser super-herói, mesmo sem vocação.
Se pudesse um superpoder, o sabia. Não quer a força, mas a dor.
A dor daquela menina. Tão doce e frágil menina. 
Elevada a qualquer potência, se preciso for.
Anjos não podem sentir dor, constatou. Anjos não sentem dor. 

domingo, 20 de janeiro de 2013

Sampa


De todos os lugares que tinha para escolher, nessa cidade que tudo tem, escolhi morar aqui, na boca do lixo, às margens da São João.

Aqui, o dia já amanhece com cheiro de merda e pessoas são confundidas com lixo. Mendigos que se cansaram e adormeceram no meio de sua busca por um bilhete premiado da loteria, ou por um simples pedaço de pão.

Em frente à Igreja, deuses são vistos dormindo na merda e comendo comida no chão, enquanto se disfarçam de indigentes à espera que algum mortal lhes dê alguma dignidade, ou um real para a pinga nossa de cada dia.

Algumas semibeatas, vestidas de minissaia e plataforma, gastam um real na banca de flores e entram na igreja. Ofertam a rosa a Santo Antônio e rezam para que algum semirrico olhe para aquelas pernas de pelos semidescoloridos e grossos de tanta gilete, e sinta qualquer coisa além de, melhor deixar pra lá.

No meio da rua, não se sabe o que é o quê. Gente, cachorro, comida, lixo. Todos lutam por um espaço debaixo de uma marquise qualquer e rogam por mais uma noite, pra que não morram de inanição, ou queimado, tido por índio.

E quando, de repente, cai a chuva, sorrateira e barulhenta, sem nem ter dado sinal, alguns se aproveitam para o banho que há tempos não se toma. Uma penicilina, por favor - ou outra pedra, pra aliviar a dor.

De longe, se escuta o choro do bebê, abafado pelos peitos molhados e fartos da mãe, que o acolhe implorando perdão por qualquer pecado cruel que tenha cometido, nessa ou em outra vida, que a faça merecedora de um castigo como aquele. Dividir a rua com a merda. Dividir o peito com o filho.

Um pouco mais acima, ruas tomadas por zumbis. É possível sentir o cheiro podre de suas vidas esquecidas e miseráveis. Perambulam como se estivessem em alguma outra dimensão que não faz sentido algum.
E no meio do lixo, a rua. Várias ruas. Vários prédios.

A arquitetura é o que há de mais belo aqui, quando se tem coragem de erguer os olhos e olhar para o alto. Toda aquela arquitetura elegante e imponente, devidamente afundada em merda.