segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Tempo de decisão

Eram dias de calor excessivo e pouca umidade. Pensar era um exercício árduo demais para dias como aqueles. Parecia que em algum momento o suor se espalharia pelo cérebro e alguma engrenagem se enferrujaria.

Naqueles dias, tudo o que ela queria era ser uma pessoa de contentamento fácil. Nos últimos anos, seus dias eram marcados por uma rotina quase milimétrica: dormir para acordar, acordar para trabalhar, trabalhar para pagar contas e, no final do dia, uma cerveja pra preencher o vazio. No dia seguinte, tudo se repetia como se assistíssemos, de novo, a mesma cena de um filme. Ela queria se contentar com aquilo.

Mas, para ela, aquilo era muito pouco e, a cada dia que passava aumentava o vazio. Estava próximo de um buraco negro. Ela achava que a vida deveria ser muito mais que aquilo e que era hora de se arriscar em uma aventura diferente. Uma aventura do jeito dela, para ela.

Mesmo não querendo, ela precisava ser racional. Deixar para trás uma ótima proposta de trabalho era, no mínimo, loucura naqueles tempos de crise. Mas ela não queria pensar nisso. Queria sair. Precisava andar. Desejava ver, com os próprios olhos, que o mundo era muito maior do que aquela pequena cidade que morava. E estava decidida. Agora só faltava formalizar a decisão. E será formalizada.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Do vazio


Tela de computador. Um cigarro aceso, um copo de coca-cola e uma página em branco. A casa está vazia. Cama desarrumada, louça suja na pia, sapatos no meio do caminho. Senta, deita, levanta, se ajeita. Abre o email, entra no orkut. Procura um ou outro amigo virtual. Curiosidade à parte, aquilo ali é insignificante demais para ser mais do que banalidade virtual. Apesar de haver milhares de pensamentos e idéias mirabolantes por segundo, a página continua vazia. Liga a TV. Passa de um canal para o outro como quem procura agulha no palheiro. Nada suficientemente interessante para prender a atenção. Acende outro cigarro, e nesse momento já começa a se culpar por fumar demais. Ok, só mais esse. E mais um copo de coca-cola.

Hoje tinha resolvido ficar em casa. Curtir um pouco aqueles 10 metros quadrados, tão parecidos e tão diferentes dela, ao mesmo tempo. Põe um DVD. Acabou a pilha do controle remoto. Abre um livro. Preguiça. De repente o telefone toca. Alguém que está vivendo uma angústia semelhante resolveu se manifestar. Ok, se é pra estar angustiado, que seja acompanhado. Palavras pra cá. Risadas pra lá. Um copo, um cigarro, um cinzeiro. De repente um beijo. E mais um, e outro. E mais alguns. Bons beijos e um pouco de carinho. Tchau, até mais!

De volta à página. Em branco. Vazia.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Um pouco de nostalgia


Saudades de alguns dias.
Das sapatilhas.
Do secreto. Dos segredos.
Saudades do frio na barriga e das borboletas no estômago.
Das noites de brigadeiro, preto ou branco.
Dos filmes no vídeo cassete.
Da pipoca estourada na panela, com manteiga.
Dos longos telefonemas, no telefone fixo.
Saudades de ter hora pra chegar. De não poder sair.
Dos segredos banais, mas tão bem guardados.
Das cartinhas na escola.
Das tardes no clube.
Das noites do pijama. Um quarto, várias amigas e muitas risadas.
Coca-cola. Pizza. Sanduíche.
Saudades de outros tempos.
Dos amigos. Das amigas.
Saudades de um tempo que não volta.
Saudades do que ainda não chegou.