terça-feira, 19 de outubro de 2010

No psiquiatra

- Olá, boa tarde doutor.

- Boa tarde minha filha. Tudo bem?


- Tudo sim, obrigada.


Silêncio.

Doutor olha para a paciente com aquele olhar de que “creio que se estivesse tudo bem, você não precisaria estar aqui”.

É ele estava certo. Não está tudo bem. Na verdade, está um pouco melhor do que estava há alguns dias, mas ainda não está tudo bem. Aquela sensação de dias atrás poderia voltar a atormentá-la.
Ela olha para o lado, respira fundo e...

- Você não precisa falar se não quiser. Mas não creio que posso ser muito útil, se você não começar de algum jeito.


- Sim, sim. Eu já ia começar a falar. Bom, na verdade não está tudo bem. Essa é a resposta que dou para todo mundo que me faz essa pergunta o dia todo. Acho que a gente condiciona a dizer que está tudo bem, né? Na verdade, perguntar se está tudo bem é uma mera convenção. Bem como a resposta. Ninguém está disposto a saber se está tudo bem mesmo com a pessoa para quem a pergunta foi dirigida. Enfim, nossas vidas são feitas de convenções e condicionamentos, não é mesmo? Mas, mesmo assim acredito que a pergunta do senhor não
tenha sido mero praxe. Ou até sim, pois imagino que o senhor esteja certo de que, se alguém o procura, é porque não está tudo bem. Pois então. Não doutor, não está tudo bem.

Pausa.


Ela pensa: agora deve ser a hora em que ele pergunta “como posso te ajudar”.

- Imagino que não esteja tudo bem, claro. Mas também imagino que não esteja tão ruim assim. De qualquer forma, como posso te ajudar?

Novamente ela pensa: sabia! Que coisa mais previsível. Enfim. Se soubesse exatamente como ele pode me ajudar, certamente eu seria capaz de ajudar a mim mesma. E como dizer de forma clara como ele pode me ajudar ou como eu espero que ele me ajude?

1. Doutor, eu acho que estou precisando de sexo. Sexo de boa qualidade, sabe? O senhor conhece alguém que esteja solteiro, sozinho e seja interessante?

2. Olha doutor, minha vida financeira está um caos. O senhor gostaria de arcar com algumas de minhas contas? Talvez o senhor queira adotar uma filha ou apenas me incluir no seu testamento.


3. O senhor deve estar acostumado com gente doida. Eu não sou doida doutor, mas de vez em quando até parece. Tem remédio para quase doidura?

Melhor não. Nada disso.
Mas talvez seja melhor tentar ser sincera. Em situações como essas, eu consigo ser racional e listar os problemas. Isso se eu não sofresse de certa amnésia que sempre ocorre especificamente em situações como essas. Tenho certeza que vou me lembrar de uma ou outra coisa, ele vai me achar perfeitamente normal e vai ficar por isso mesmo. E, ao dar o primeiro passo para fora do consultório, as informações esquecidas surgirão em minha frente, como brisa. Bom, vamos tentar.

- Eu não sei exatamente como o senhor pode me ajudar. Mas acredito mesmo que esteja precisando de ajuda. Para começar, eu tenho psoríase. Eu sei que o senhor não é dermatologista, mas se tratando de uma doença que, segundo o que dizem, possui causa emocional, creio que o senhor possa me ajudar mais que os dermatologistas todos que eu já visitei. Acredito que esse seja o primeiro item da lista: a psoríase.

- Sim, entendo, e vamos ver como posso fazer para ajudar. Mas acredito que essa não tenha sido a única razão que tenha te trazido até aqui.


- Não doutor, não foi. Na verdade são várias. E a probabilidade de eu me lembrar de metade delas é bem remota. Aliás, já anota aí mais um sintoma: memória curta. Curtíssima, diga-se de passagem. Vaga lembrança. Pode contar segredo, eu não vou me lembrar mesmo. Em uma conversa informal, se o senhor me contar uma história da sua vida, eu possivelmente vou me esquecer de informações básicas da história. E eu não era assim.

Pausa. Talvez essa seja a hora que ele vai me mandar procurar um neurologista.

Silêncio. Ele termina de anotar e olha para a paciente como quem diz: pode continuar.


- Posso continuar?, ela pergunta só para ter certeza.

Ele acena positvamente com a cabeça e abre um meio sorriso.

- Outra coisa é o cansaço. O tempo todo. Cansada pra tudo. Preguiça. Parece até macumba. Nos últimos dias melhorou um pouco. No feriado, até saí de casa um pouco. Mas há alguns dias, não queria levantar da minha cama para nada. E fico sempre assim, pensando em coisas que preciso fazer, e que sempre deixo para depois. Dias mais, outros menos, a falta de vontade de sair da cama para qualquer motivo que seja, toma conta.

Cisma de doença. Crises de ansiedade. Duas semanas atrás, estava eu na emergência do hospital. Dor no braço. Respiração difícil. A cabeça parece que está dentro de algum lugar onde a pressão atmosférica é negativa. Náusea. Coração acelerado. Segundo o plantonista, nada que um Rivotril via oral e mais dois remedinhos na veia não resolvam. Vergonha! E essa não foi a primeira vez. Seis meses atrás foi a mesma coisa. Só a dor no braço que, dessa última
vez, foi novidade.

Na hora que a crise vem, eu penso em tudo. Estou enfartando. Vou ter um derrame. Trombose. Tumor na cabeça. Vou morrer. Isso tudo, fora os secundários: a gastrite, que realmente existe, e o pulmão que não deve estar dos melhores por causa do cigarro. Junta o que é de verdade com o que é fantasia da minha cabeça e bate tudo no liquidificador. Enlouquece qualquer um doutor. Por isso falei pro senhor que pareço doida de vez em quando.

E quando dá crise de choro. Não sinto vontade de por o nariz pra fora do meu quarto. Só chorar, chorar, chorar. Choro por tudo. Qualquer coisa. E de vez em quando até por motivo nenhum. Aí eu ponho um filme, vou ver foto antiga, email antigo e me dar motivos para chorar. Engraçado. Depois que passa a fase do chorar, chorar, chorar eu me sinto a pessoa mais forte do mundo e corro de sentimentalismos/tas.

Comer. Então, esse é outro problema. Recentemente eu tomei Sibutramina por duas semanas. Eu acredito muito que a crise que eu tive algumas semanas atrás pode ter sido por causa dela. E agora, estou querendo que o mundo acabe em massa.


Tá anotando tudo aí, né doutor?

terça-feira, 5 de outubro de 2010

How do I care

Why is it so difficult to be happy?
Why does a smile cost so much?
Who cares about how much it costs?
I do!
I'm always regretting on things
Wishing things could be different
Wishing I've had made different choices
Always questioning my choices
And wanting to be somebody else
A different person
A different life
Always making the wrong choices
No pleasure
No joy
Other people seem to be so much happier
And also seem to enjoy their lives no matter it's like
Even if sometimes it's kind of hard
Who cares?
I do!
I claim for a different life
A different way of living
Which is not just spending my (free) days in bed
Wishing things to change
Wishing that some miracle happens
Wishing somebody to find myself
It's such a passive way of living
Putting my life into somebody else's hands
Waiting for rescue
Claiming for salvation
From my bed
I don't even scream so that somebody can hear
But inside I beg for rescue
I beg for something different in my life
For an honest and true smile
From inside to the world
To this world
That I have no idea of what I'm doing on it
I wish I had a different life
I wish I were somebody else
No matter who
Just truly happy!

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Do tempo

Antes que eu me perca no tempo, ou que o tempo se perca em mim.

Antes que eu não tenha mais tempo.

Faço de hoje o tempo de agora.

Para viver o tempo que resta, sem lamúrias ou arrependimentos.

E sem culpar o inculpável tempo.


Apenas uma consideração sobre a única coisa que não podemos resgatar.

sexta-feira, 26 de março de 2010

"Se chorei ou se sorri...

...O importante é que emoções eu vivi.”

Nada mais clichê e verdadeiro que começar o post com essa frase. Aliás, antes de mais nada, agradeço à Paula, pois foi a partir de um comentário dela que o título (clichê ou não) surgiu.

Enfim, vamos ao que interessa.

Um ano e dois meses depois, estou voltando. Impossível descrever todas as “emoções” que me acompanharam nesse tempo.

Houve momentos em que eu parecia uma criança, maravilhada com a incrível sensação de conhecer lugares e coisas novas. Lágrimas de felicidades e sorrisos largos me acompanharam nesses momentos.

Houve outras ocasiões em que as lágrimas eram de saudades. De ter perdido o casamento da Lê e do Ale e o nascimento do Matheus, por exemplo. Da família reunida na Sexta-feira da Paixão e no Natal, dos amigos reunidos num boteco, da roda de samba no domingo à tarde ensolarado, do sol.

Um ano e dois meses depois, estou voltando. Agora algumas lágrimas vão fazer parte do processo de despedida. Só eu sei a saudade que vou sentir do que vou deixar aqui. Dos amigos que fiz, de conhecer novos lugares e novas pessoas, de aprender outro idioma, enfim, daqui de Dublin, daqui da Europa.

Aqui, relatei um pouco das minhas experiências durante esse período, das viagens que fiz, dos shows que assisti. Aqui, recomeço minhas andanças, agora de volta ao Brasil, pronta para novas experiências e desafios e continuar escrevendo minha história.

Até breve Brasil! E Europa, eu já aprendi o caminho!

Obs.: aproveito para agradecer o querido Luciano Jardim - brasileiro que conheci em Dublin, pelas fotos que fez pra mim. A nova foto do perfil foi ele quem fez. Valeu Lu.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Constatações

Depois de algum tempo procurando por algo que ela não sabia exatamente o que era alguns pensamentos vieram à tona. Tentaram avisar, antes de ela partir, mas em sua teimosia resolveu ir conferir. Não houve arrependimento, apenas constatações. De certo, algumas constatações fazem mais sentido quando tiradas por si mesma. Pelo menos era o que a confortava.

Depois de um ano longe de seu país e das pessoas que faziam parte de sua vida, falando outro idioma, conhecendo novos lugares, aquele vazio insistia em se fazer presente. Com certeza aprendera muita coisa naquele ano em terras estrangeiras, mas ainda havia muitas perguntas sem nenhuma resposta.

A idéia de sair pra buscar um novo sentido pra si mesma, naquele momento não fazia sentido algum. Ela percebeu que não importa onde você está, você carrega consigo uma bagagem da qual não tem como se desfazer: você mesma. A sensação de ter fugido por ter sido incapaz de encarar certas coisas, inclusive ela mesma, era constante. Mas essas coisas simplesmente mudaram de país, junto com ela.

Depois de tanto tempo, a saudade começava a falar mais alto. Mas ao mesmo tempo a sensação de não ter atingido seu objetivo – que honestamente ela ainda não sabe qual é – era o contrapeso para tudo.

Ela tentou por algum tempo se desconectar do mundo que deixou pra trás, mas depois de algum tempo concluiu que as pessoas que fizeram parte de sua vida continuavam existindo (e claro, vivendo suas próprias vidas), e continuavam fazendo parte de sua vida, mesmo sendo no plano das recordações.

A vontade de fugir novamente fazia parte de seus planos. Procurar outro lugar onde poderia encontrar algo que fizesse sentido em sua vida. Por um lado, ela sabia o que estava errado, e era com ela. Então, novamente, um novo lugar não ajudaria muito. Ela parecia estar esperando por um milagre. Talvez isso tenha a ver com a quantidade de filmes que ela assistia. Era como se ela fosse pra outro lugar, ela eventualmente poderia encontrar alguém, por acaso, na rua ou em um café, que pudesse mostrar um sentido pra ela.

A questão agora era ela. Ela constatou que nunca se empenhou de fato em coisa alguma. A falta de foco pode fazer isso com as pessoas. Hoje querer ser atriz. Amanhã, ser bailarina. No outro dia, apresentadora de TV, e o que restou foi ser publicitária. De fato, ela nunca se empenhou pra nenhuma dessas funções com muito afinco. Sempre dava preguiça. E enquanto estava se empenhando em uma delas, estava sofrendo por não estar se empenhando na outra. E o que restou de tudo, foram as lembranças do pouco de tudo que já fez. Meio pelas metades. Nada por inteiro.

E era isso o que ela procurava. O inteiro das coisas. O inteiro de si mesma. Eram muitos fragmentos que de alguma forma, não se encaixavam. E ela resolveu criar mais um. Ir pra Europa, fazer o que mesmo? Ah sim, tentar encontrar o inteiro de si mesma. Mas, até o momento ela só encontrou novos fragmentos em terras estrangeiras.

Existiam algumas coisas que ela percebeu que precisava mudar em si mesma, mas mudar de país é mais fácil. A principal delas era aprender a relaxar. Tentar levar a vida de forma menos pesada. Respirar e tentar fazer o seu melhor e aceitar quando perceber que não se tem resposta ou solução pra tudo. Se essa era a primeira coisa, a lista já começou um pouco complicada. Ela tem se perguntado constantemente por que ela não se dá a oportunidade de, com o perdão da expressão, ligar o foda-se. E o que era pior, quando ela resolvia fazer isso, fazia do jeito ou na hora errada. Mas melhor deixar essa lista pra outra ocasião.

Bom, essa não é uma sentença final de fracasso. Mas ela ainda não sabe que decisão tomar. Talvez ela esteja esperando o acaso juntar os fragmentos, ou os cacos. Honestamente, as vezes parece que ela espera do acaso um bom motivo pra começar a viver. Tomara que ela não acredite que terá outra vida.