quarta-feira, 24 de junho de 2020


O dia começou atropelado e antes do meio dia, já quis morrer algumas vezes.
Já quis silêncio, escuro, lugar pra me aninhar e esperar a vida passar.
Quis desistir de tudo, quebrar o apartamento, gritar aos quatro ventos que nada mais faz sentido.
Gritei e quebrei tudo. Dentro.
Cacos despedaçados ao som de zunidos incessantes no interior de mim.
Perfurei veias em pensamento e deixei jorrar o sangue nesse salão de incertezas.
Por fim, dancei valsa com fantasmas que o habitam.

terça-feira, 9 de junho de 2020

Os remédios já não fazem mais efeito.

Falta vontade. Sobra silêncio.

Para fora do corpo, nada.

Dentro, vulcão em erupção.

Lava incandescente, quente e raivosa.

Campo minado. Bomba relógio.

Nenhuma palavra brota da boca.

Nascente seca. Silêncio paralisante.

Olhar perdido no caos de dentro.

Tudo se mistura ao sangue que sai da veia que rompe.

Sangue, suor, lágrimas, silêncio.


sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Abdução


Me abduzi de mim mesma, mas ainda sinto meu corpo.
As plantas da varanda secaram, mesmo regadas em considerável frequência.
Parecem estar dando sinais sobre prazo de validade. 
Talvez sobre o meu próprio, quem sabe.
Faz sentido, pensando na secura de minha própria garganta, apesar dos mais de 3 litros d'água bebidos hoje, até agora.
E na boca, um gosto amargo de nada. Que nada consegue tirar.
Quero dormir, mas não consigo.
As pílulas são fracas demais e não me fazem dormir o suficiente.
Dormir pra acordar em outra dimensão. Outro tempo. Outro ser. Outro seu.
As plantas querem dizer algo.
Tá quente aqui.
É o prazo de validade? O meu? O delas?
Essa foi mais uma daquelas noites: sonhos perturbadores nas poucas horas de olhos fechados.
Sustos, surtos, vida, morte.
Não sinto o gosto da água. Não sinto o cheiro do incenso.
Me toco mas não me sinto.
Descamo. Condeno.
Sinto que me abduzi de mim mesma. E já não sinto mais o meu corpo.