sexta-feira, 13 de julho de 2012

(Não) Existe amor em São Paulo

                    Desenho: Ormuz Junior

Noite de feriado. 
Duas almas se juntam para uma cerveja na Augusta. À medida que a garrafa se esvazia, as conversas existenciais se aprofundam. A cidade é feita de pessoas que não se veem. Não se olham. Não se tocam. Não se escutam. Em meio a tanto barulho, ninguém ouve ninguém, concluem.
Um transeunte se aproxima. Transeunte mesmo, digno dos contos do Machado de Assis. Não era um indigente, beirava a distinção. Exalava solidão. Pediu um copo de cerveja e reclamou da falta de amor. Gritou a dor e a solidão. Bebeu aquela cerveja, salgada pelas lágrimas, como quem engole o próprio desespero. Boa noite, agradece. 
E o transeunte se vai. 
Daquele rosto, alguém se lembrou. E da cor de seus cabelos brancos. E do seu desespero tão genuíno e verdadeiro. Tão seu. Tão meu. Tão de tanta gente. 
Garçom, mais uma, por favor.