sexta-feira, 23 de março de 2012

À mãe, ao pai, o filho

Ô mãe, avisa o pai que eu fui. Fui pra longe, longe da luz.
Desfaz minha cama, e monta um altar. De lá, eu não vou mais voltar.
Ô pai, cuida da mãe. Põe a mesa no café, mas deixa um lugar pra mim.
No almoço, calem o silêncio com as histórias que não vivi. 
De quando em quando se lembrem, com carinho, de mim. 
Sexta à noite, desligue a TV. 
Ô pai, compra aquele vinho, não precisa ser do mais caro. 
Mas põe na taça bonita, faz pra mãe um agrado.
Esquece seu gosto de música, e bota um jazz pra tocar. 
Acende uma vela e na música, me sinta, eu estou lá.
Quando puder, vai ver a lua. Quem sabe eu não fui pra lá. 
Ô mãe, faz um favor, cuida pra mim do menino. 
Do filho que nunca tive, mas que de alguma forma, vive.
Leva meu filho pro mar e o deixe livre pra voar, ou nadar.
Quem sabe assim, quando menos se espera, ele vem me buscar.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Garrafas de vinho, palavras ao vento


Sou eu quem deixa a toalha molhada em cima da cama. Quem dorme com os olhos em chamas e rega com lágrimas a fronha do travesseiro. Adubo para o desespero. Sou eu que, sem saber o que fazer com a capacidade de ler o outro, abdica de ler a si. E não lê. E nem diz quem é.
Saber quem se é, é ter que afirmá-lo pra si mesmo. E a qual preço.
Procuramos o caminho do meio. Alimentamos nossos próprios anseios e fugimos de nossas maiores dores. 
Achamo-nos livres. E de dentro de nossa liberdade, vemos um mundo lá fora. Um mundo que não se define. Cuja felicidade é a nova TV  - no carnê, em 36 vezes.
Esse texto, ninguém lê. E quem lê não se importa.
A caverna do outro é só dele. Deixe-o preso por lá. Liberdade é a caverna de cada um.
Dizer-se livre, mas livre de quê? Do que precisamos nos redimir? A qual preço.
Garrafas de vinho e palavras ao vento. Ditas com a mesma intensidade que a fumaça do cigarro.
O que nos sufoca? O que nos mata?
Dormir e acordar é o que chamamos de vida. Entediante, eu sei.  Mas entediante o suficiente para não querer dar cabo a ela.
Ela que é sempre tão incerta e tão bela. Tão nociva e tão chata. Tão repleta de senões, e tantos nãos. E tantas mãos que, entrelaçadas, significam o mesmo que nada. Mas dela, ninguém quer de fato morrer.
Quem o faz, deixa cartas. E roga para que sejam lidas antes do juízo final.
Um carrinho de emergência e movimentos de ressuscitação. Quem quer voltar?
Dormir e acordar. Ser. Sonhar.  

domingo, 11 de março de 2012

Papel em branco e algumas reflexões. Ou apenas perguntas, vazias.

Uma folha de papel em branco. Como a vida.
Todos esses anos tentando entender sobre esse divino mistério. Afinal, o que é isso?
Vida.
Sempre me pergunto o que realmente isso significa. Uma viagem. Um tempo. Nada. 
Respostas ninguém tem, mas continuam todos vivendo.
Enquanto isso, acidentes por aí. Pessoas nascendo, outras morrendo. Pessoas sendo felizes e outras fingindo que são. 
Entre um trago de oxigênio e outro, vida. 
Um cigarro e uma taça de vinho. Jazz para os ouvidos e, resposta nenhuma. 
Estamos presos em algum lugar. Marionetes de alguém. 
Dizem que somos senhores do próprio destino. Mas sempre precisamos de algo no que confiar. Fé. Deus. Energia. Qualquer coisa. Qualquer coisa que nos redima de nossas próprias culpas. Ou que justique nossas angústias. Ou ainda, que dê alguma razão para os nossos dias. Todos os dias. 
Presos nas ruas, em casa, numa garrafa de scotch. 
Nos achamos tão donos de nós mesmos, mas sempre buscamos algo que justifique nossas fraquezas. Ou nosso sucesso. 
Afinal, ganhar na loteria é ou não uma questão de sorte?
Enquanto isso, nos pedem otimismo. Em quê? Como isso pode mudar o destino?
Destino. Uma reta para algum lugar. Ou lugar nenhum. Uma estrada de muitas curvas.
Essa estrada desconhecida, estrada. Qual o imã que nos mantém nela?
Quem é o motorista dessa coisa chamada ser.  Quem muda o caminho? E quem sabe qual o caminho a seguir.
Desistir, dizem, é sempre o caminho mais fácil. Desistir para onde? De quê? 
E quando falam do recomeço, citam Fênix. Onde estão as suas cinzas então? 
Recomeço. 
Recomeçar nunca é fácil, principalmente quando não se sabe em que parte da estrada você está. Menos ainda quando não se acha a direção para um lugar qualquer nos mapas. 
Recomeçar tem a ver com traçar um novo caminho. Mas e o destino, já não está traçado?
Tantas perguntas, desde sempre. Afinal, o que estou fazendo aqui?
E se a resposta for recomeçando, me pergunto de novo: de onde?

quarta-feira, 7 de março de 2012

Ao tempo, meu melhor sorriso


Tempo, tempo, senhor tempo.
Tu, de quem tanto se fala. Quantos poetas sobre ti escrevem. Mas de fato, quem és tu, ó tempo?
Uma entidade que brinca de esconde-esconde com nossas vontades? Um mausoléu onde se mantêm reféns os nossos desejos?
Tempo, tempo, senhor tempo. Sei que de ti, não devo correr. Devo manter-te a meu lado, mesmo sem saber quem és. Dar-te vida, e a ti, sorrir. Sorrir sempre,  meu melhor sorriso.
Ó tempo, quem sabe de ti? Onde resides ou onde te escondes?
No jardim que habitas, ainda não te vejo. Talvez esteja, minha visão, um pouco turva. Ou talvez não saibam meus olhos, identificar o que veem.
Devesse talvez enxergar com os olhos da alma?
Tempo, tempo, senhor tempo. Não te escondas de mim.
Dou-te vida em meus desejos. Tira-me a vida, em meus anseios.
Sim tempo, vou-te sorrir.  Sempre, o meu melhor sorriso.