sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Lutos



Quantas pessoas precisaremos perder para percebermos, definitivamente, o quanto somos vulneráveis? Para finalmente dar valor no hoje, pois essa é a única certeza que temos.


Quantos lutos teremos que vestir para mudarmos o rumo de nossas próprias vidas? Para entendermos de uma vez por todas que não teremos outra chance para fazermos diferente. Não teremos outra vida e, de fato, não sabemos nem se teremos outro dia, outra hora.


Planejamos muito. Fazemos milhares de resoluções de ano-novo. Deixamos para começar a dieta na segunda-feira, e olha que hoje ainda é quarta. E quando vamos começar a viver? Quando vamos olhar para nós mesmos e fazer o que realmente nos faz felizes? Quando começaremos a responder, quando indagados de como está a vida, que estamos felizes, ao invés de responder um simples e frio “vai indo”.


Quando vamos entender que a vida é curta demais e que simplesmente não permite ensaios? Nosso ato é agora, errado ou certo, feliz ou triste, bem ou mal vivido.


Quantos lutos mais teremos que vestir?



2 comentários:

Unknown disse...

No final das contas, não é o número de lutos que importa. Nós não funcionamos dessa forma, Lorena.

Nós, humanos, somos criaturas extremamente empáticas e sociais, e temos a capacidade de aprender vendo os outros. No entanto, nós nos recusamos a fazer isso, nos recusamos a admitir que a realidade dos outros vale pra nós também. A verdade é que a realidade não dá a mínima pra quão importante nós achamos que somos ou se gostamos ou não dela. Estamos todos sobre as mesmas variáveis:

-- "A realidade é aquilo que, quando você para de acreditar, continua lá" - Philip K. Dick

As pessoas só percebem suas próprias fragilidades, e a fragilidade de seus planos, quando são elas que levam o golpe. Se não for com elas, não fará a diferença. Fica no passado... Pessoas só mudam no tranco.

No fundo no fundo, acho que chega naquela velha história: nós só queremos nos sentir seguros e confortáveis, sob controle, seja lá quem ou o que esteja controlando - nós mesmos, Deus, o Cosmos. Inventamos mitos de imortalidade, inventamos importância para nossos caprichos inúteis e inventamos nomes pra espaços de tempo. Tudo isso pra termos a nossa ilusãozinha reconfortante de que tudo passa, e que tudo ficará bem no final. Tentamos ignorar o máximo toda a evidência de que estamos errados, mas tem hora que não dá.

Mas veja, se não nos deixamos acreditar que existe um problema com isso tudo, como poderemos resolvê-lo? Isso volta aquele papo da maiêutica de novo. Nosce te ipsum. Em algum momento de nossas vidas, por algum motivo qualquer, começamos a acreditar que nossos caprichos e hábitos são o que nos definem. Afinal, é menos esforço e implica em menos conflitos internos - os quais resolução é que nos definem, ao meu ver. O "nós-verdadeiro" vai junto, ignorado e escondido nisso tudo. O resultado disso é depressão, crises de meia idade ("estou no meio da vida e ainda não sei quem eu sou"), ansiedades sem motivo aparente, inseguranças, etc.

Bah. Acho que já estou divagando demais. Mas meu ponto é que não, lutos dos outros não fazem a diferença. O que faz a diferença é quando deixamos nossa pseudo-personalidade de estimação morrer, e aceitamos isso como o momento em que começamos a viver de verdade. Largar mão da ilusão de controle e segurança é difícil, e de fato as pessoas tendem a rejeitar quem rejeitou a noção de conforto. Chamam de arrogância e cinismo. Eu chamo de coragem de viver.

Abs.

kuntz disse...

Pois então...

O problema é que a realidade última, por mais abandonos que façamos, ainda permanece como uma interpretação da "externalidade". O ego insiste em permanecer, mesmo fazendo de conta que não está ali. Os outros, a externalidade, ou os que faltam, ainda ficam como referência do que somos.