sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Abdução


Me abduzi de mim mesma, mas ainda sinto meu corpo.
As plantas da varanda secaram, mesmo regadas em considerável frequência.
Parecem estar dando sinais sobre prazo de validade. 
Talvez sobre o meu próprio, quem sabe.
Faz sentido, pensando na secura de minha própria garganta, apesar dos mais de 3 litros d'água bebidos hoje, até agora.
E na boca, um gosto amargo de nada. Que nada consegue tirar.
Quero dormir, mas não consigo.
As pílulas são fracas demais e não me fazem dormir o suficiente.
Dormir pra acordar em outra dimensão. Outro tempo. Outro ser. Outro seu.
As plantas querem dizer algo.
Tá quente aqui.
É o prazo de validade? O meu? O delas?
Essa foi mais uma daquelas noites: sonhos perturbadores nas poucas horas de olhos fechados.
Sustos, surtos, vida, morte.
Não sinto o gosto da água. Não sinto o cheiro do incenso.
Me toco mas não me sinto.
Descamo. Condeno.
Sinto que me abduzi de mim mesma. E já não sinto mais o meu corpo.

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