Me abduzi de mim mesma, mas ainda sinto meu corpo.
As plantas da varanda secaram, mesmo regadas em
considerável frequência.
Parecem estar dando sinais sobre prazo de validade.
Talvez sobre o meu próprio, quem sabe.
Faz sentido, pensando na secura de minha própria garganta, apesar
dos mais de 3 litros d'água bebidos hoje, até agora.
E na boca, um gosto amargo de nada. Que nada consegue
tirar.
Quero dormir, mas não consigo.
As pílulas são fracas demais e não me fazem dormir o suficiente.
Dormir pra acordar em outra dimensão. Outro tempo. Outro ser.
Outro seu.
As plantas querem dizer algo.
Tá quente aqui.
É o prazo de validade? O meu? O delas?
Essa foi mais uma daquelas noites: sonhos perturbadores nas
poucas horas de olhos fechados.
Sustos, surtos, vida, morte.
Não sinto o gosto da água. Não sinto o cheiro do incenso.
Me toco mas não me sinto.
Descamo. Condeno.
Sinto que me abduzi de mim mesma. E já não sinto mais o meu
corpo.
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