segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Sobre a dor

O fato é que não estamos preparados para lidar com nossos próprios medos. Nem com aqueles medos que são nossas únicas certezas. Lidar com a morte, por exemplo.

Embora saibamos que é a única certeza de todos nós, tentamos viver como se ela não existisse. Vivemos como se fôssemos eternos. Planejamos a médio/longo prazo com a certeza de que estaremos lá para cumprir todas as etapas. Seres humanos. Querem controlar tudo, até a sua própria data de validade.

Realmente não estamos preparados para a morte. Nem a nossa, nem a do outro. Pensar que posso dormir agora e não acordar pela manhã é algo mesmo assustador. Porém, pode ser mais certo do que o plano de viagem para daqui a dois meses. Vai saber.

E entre os dois extremos, seria bom encontrar a média. Hojes bem aproveitados e amanhãs bem planejados. De forma assim, natural. Sem a neurose de que o dia de hoje é um dia a menos na vida. E sem a certeza da existência de eternos amanhãs.

O fato é que não estamos preparados para lidar com nossas perdas. Seres humanos não querem perder nada.

A idéia de morte é tão assustadora que às vezes não permitimos que algumas coisas morram dentro de nós. Uma dor. Às vezes guardamos algumas dores, aquelas que foram (ou ainda são) especiais. Colocamos no armário mais escondido e trancamos à chave, mas vez por outra nos pegamos olhando pelo buraco da fechadura. Só pelo prazer de vê-la lá, ainda nossa, ao invés de enterrá-la em um terreno sem possibilidade de exumação.

Nem a dor nós deixamos ir. Talvez por medo de ficarmos vazios. De continuar olhando pelo buraco da fechadura e não ter nada lá. Nem a dor nós deixamos morrer. Não deixamos por medo. O medo do Jaz aqui uma dor insubstituível. O medo jamais a deixaria descansar em paz.

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