sábado, 13 de outubro de 2018

Silêncio dos dias

Quero silêncio. Profundo e absoluto. 
Procuro, mas não encontro. Apago as luzes. Nada. 
Os fantasmas de minha mente não se calam. 
Rebelam-se. Se alvoroçam. 
Não sou propriedade de ninguém. Nem minha. 
Às vezes não pareço dona nem de minh'alma. 
Nada. Controlo nada. 
Nem os fantasmas que se recusam a silenciar-se. Falam. 
Juntos, falam alto, todos. Ao mesmo tempo. Não entendo. 
Tento não mais ouvir suas vozes. 
Não me obedecem. Vozes. Falam. Gritos e sussurros. 
Todos ao mesmo tempo. Tempo. Temo. 
Quero o silêncio. Silencio-me. A casa, luzes apagadas. 
Me enxergo pela fresta da cortina. 
Barulho algum, ou chiado, ou ronronar do gato. 
Mas não há silêncio. Dentro. 
Vozes. Vozes. Vozes. 
Frases sem sentido. Concordâncias malfeitas. 
Pretérito imperfeito. Futuro que não enxergo. 
Ameaço. Peço. Calem-se. 
Silenciem-se todas ou as mato. 
Seria o quê pior que matá-las?
Deixar que então me matem, quem sabe?
Não sou propriedade. Nem minha, nem delas. 
Procuro o silêncio. Não acho. 

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