quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Pretérito, futuro imperfeito


Sou feita de sabores que ainda não conheço. Notas que ainda não ouvi. Lugares que ainda não fui.
Da minha vida, sei apenas a hora que nasci. Não sei em que momento me despeço. Desconheço o tempo que me resta, como desconheço o sabor da próxima refeição. Também não sei como será o gozo do próximo afeto. 
Próximo, pródigo ou prólogo. 
Sei das minhas inquietações. Das de hoje. Que podem ter-se somando às de ontem. Ou se tornarem nada com as de amanhã. 
Em minha vida, existe terreno árido. Tentativas. Areia, asfalto, água, ar. Terra que não solidifica. Água que teima em brotar. Livro que ainda não li, texto que não sei se vou escrever. 
Não existe nada de certo.
Existem palavras. Muitas. Mal ditas, não ditas, pensadas. Soltas, juntas, postas na mesma frase em lugares diferentes. Sujeito que vira predicado, particípio que vira gerúndio. Pretérito imperfeito que pode virar futuro do subjuntivo. 
Perfeito, presente, futuro, imperativo, ser. Imperfeito. Possibilidades. 
Vozes que calam e cessam. 
Resto, restas, restos. 
Restos dos vinhos vinagrados para entorpecer a alma inquieta. Durmo, acordo. Mais um trago. 
Mais um, nenhum. Sonho. 
O cheiro do café que me acorda. Os desejos de minha alma onde padeço.

2 comentários:

Letícia Gonçalves disse...

Te amo! ❤️

MagaH disse...

Adorei esse universo de possibilidades. Te amo