terça-feira, 23 de agosto de 2016

Vísceras



Às vezes parece que o tempo para. Ou a gente para no tempo.

Dias frios, cinzas, vazios. Repletos de significados, ou cheios de tempo para se fazer ressignificar a própria existência.

Lá fora, o vento. O barulho dos carros e das sirenes. Os gritos de pavor ou de êxtase.

Aqui dentro, silêncio.

Inquietante, sufocado pela avalanche de tons e de notas em que ecoam as vozes dos demônios que habitam dentro da alma.

Um vulcão, há muito, adormecido. Onde dançam as lavas incessantemente, buscando um espaço por onde possam, finalmente, erupir.

Cantos, danças, ritos... todos pagãos. Gritos silenciados pelo excesso de civilidade.

Ecoam, bradam, brincam, ferem, pedem passagem.

Dionísio, Baco, Hefésio, Prometeu, Zeus, Hera, Afrodite, Thor. Todos, misturados, lutam, gritam, festejam, brindam, pedem... ouçam.

Silêncio.

Escuro e vazio, silêncio. Silencio. Grito. Gritam.

A dança das lavas segue... quente, pulsante, inquieta. Viva.

Há tempos em que o tempo para. Há de se observar esse tempo.

Tempo que pulsa e emerge. 

Quente. Vivo. Vísceras. Vida.