quarta-feira, 10 de abril de 2013

Uma breve reflexão sobre o que não se vive mais: o passado


Sim, todos sabemos que passado é um tempo verbal que já se foi. Uma estrada pela qual passamos e que findou num baú que guardamos com algum orgulho, ou alguma dor.

Que atire a primeira pedra quem nunca colocou a cabeça no travesseiro querendo fazer de novo aquilo que se fez e não deu certo. Ou quem nunca chorou pensando naquele dia que poderia se repetir. Ou ainda quem não se pegou querendo, por favor, mais um pedaço daquele pudim. Daquele, lá de trás. Pois você pode até comer um outro agora, do mesmo jeito, mas aquele sabor lá, aquele, já se foi.

Muita coisa se foi mas continua guardada como uma coleção nesse baú chamado memória. E por mais que se tenha total consciência que o ponteiro do relógio não anda para trás, vez ou outra esse baú é visitado. E revisitado se preciso for.

E aí, quando a memória parece ser tão mais real do que uma simples memória, a vontade de trazê-la de volta é angustiante. É como uma tentativa muito forte de ressuscitar alguém que já está gelado de morte. 

Sim, o passado mora longe demais. E pensar em qualquer coisa que poderia ter sido feito diferente para que ele não fosse passado, apesar de ser às vezes um exercício constante, é só uma receita para trazer mais dor.

Algumas dores desse passado, talvez não tenham sido curadas desse tanto. As cicatrizes continuam abertas a seu modo. E qualquer movimento pode reabrir a tal ferida e demorar o dobro para que se faça uma nova pele, fina e frágil. E é melhor que o sangue não jorre.

Às vezes tudo o que se quer é um pó mágico para dormir e acordar naquele dia. Ou uma outra magia, que faça esquecer. Em algumas circunstâncias, o passado é cruel demais para ainda habitar nossa memória. Nossas paredes brancas e nossas noites vazias. Uma dose para o esquecimento eterno. E noites de paz, por favor.