sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Constatações

Depois de algum tempo procurando por algo que ela não sabia exatamente o que era alguns pensamentos vieram à tona. Tentaram avisar, antes de ela partir, mas em sua teimosia resolveu ir conferir. Não houve arrependimento, apenas constatações. De certo, algumas constatações fazem mais sentido quando tiradas por si mesma. Pelo menos era o que a confortava.

Depois de um ano longe de seu país e das pessoas que faziam parte de sua vida, falando outro idioma, conhecendo novos lugares, aquele vazio insistia em se fazer presente. Com certeza aprendera muita coisa naquele ano em terras estrangeiras, mas ainda havia muitas perguntas sem nenhuma resposta.

A idéia de sair pra buscar um novo sentido pra si mesma, naquele momento não fazia sentido algum. Ela percebeu que não importa onde você está, você carrega consigo uma bagagem da qual não tem como se desfazer: você mesma. A sensação de ter fugido por ter sido incapaz de encarar certas coisas, inclusive ela mesma, era constante. Mas essas coisas simplesmente mudaram de país, junto com ela.

Depois de tanto tempo, a saudade começava a falar mais alto. Mas ao mesmo tempo a sensação de não ter atingido seu objetivo – que honestamente ela ainda não sabe qual é – era o contrapeso para tudo.

Ela tentou por algum tempo se desconectar do mundo que deixou pra trás, mas depois de algum tempo concluiu que as pessoas que fizeram parte de sua vida continuavam existindo (e claro, vivendo suas próprias vidas), e continuavam fazendo parte de sua vida, mesmo sendo no plano das recordações.

A vontade de fugir novamente fazia parte de seus planos. Procurar outro lugar onde poderia encontrar algo que fizesse sentido em sua vida. Por um lado, ela sabia o que estava errado, e era com ela. Então, novamente, um novo lugar não ajudaria muito. Ela parecia estar esperando por um milagre. Talvez isso tenha a ver com a quantidade de filmes que ela assistia. Era como se ela fosse pra outro lugar, ela eventualmente poderia encontrar alguém, por acaso, na rua ou em um café, que pudesse mostrar um sentido pra ela.

A questão agora era ela. Ela constatou que nunca se empenhou de fato em coisa alguma. A falta de foco pode fazer isso com as pessoas. Hoje querer ser atriz. Amanhã, ser bailarina. No outro dia, apresentadora de TV, e o que restou foi ser publicitária. De fato, ela nunca se empenhou pra nenhuma dessas funções com muito afinco. Sempre dava preguiça. E enquanto estava se empenhando em uma delas, estava sofrendo por não estar se empenhando na outra. E o que restou de tudo, foram as lembranças do pouco de tudo que já fez. Meio pelas metades. Nada por inteiro.

E era isso o que ela procurava. O inteiro das coisas. O inteiro de si mesma. Eram muitos fragmentos que de alguma forma, não se encaixavam. E ela resolveu criar mais um. Ir pra Europa, fazer o que mesmo? Ah sim, tentar encontrar o inteiro de si mesma. Mas, até o momento ela só encontrou novos fragmentos em terras estrangeiras.

Existiam algumas coisas que ela percebeu que precisava mudar em si mesma, mas mudar de país é mais fácil. A principal delas era aprender a relaxar. Tentar levar a vida de forma menos pesada. Respirar e tentar fazer o seu melhor e aceitar quando perceber que não se tem resposta ou solução pra tudo. Se essa era a primeira coisa, a lista já começou um pouco complicada. Ela tem se perguntado constantemente por que ela não se dá a oportunidade de, com o perdão da expressão, ligar o foda-se. E o que era pior, quando ela resolvia fazer isso, fazia do jeito ou na hora errada. Mas melhor deixar essa lista pra outra ocasião.

Bom, essa não é uma sentença final de fracasso. Mas ela ainda não sabe que decisão tomar. Talvez ela esteja esperando o acaso juntar os fragmentos, ou os cacos. Honestamente, as vezes parece que ela espera do acaso um bom motivo pra começar a viver. Tomara que ela não acredite que terá outra vida.