Sim, todos sabemos que passado é um tempo verbal que já se
foi. Uma estrada pela qual passamos e que findou num baú que guardamos com
algum orgulho, ou alguma dor.
Que atire a primeira pedra quem nunca colocou a cabeça no
travesseiro querendo fazer de novo aquilo que se fez e não deu certo. Ou quem
nunca chorou pensando naquele dia que poderia se repetir. Ou ainda quem não se
pegou querendo, por favor, mais um pedaço daquele pudim. Daquele, lá de trás. Pois
você pode até comer um outro agora, do mesmo jeito, mas aquele sabor lá, aquele,
já se foi.
Muita coisa se foi mas continua guardada como uma coleção nesse
baú chamado memória. E por mais que se tenha total consciência que o ponteiro
do relógio não anda para trás, vez ou outra esse baú é visitado. E revisitado
se preciso for.
E aí, quando a memória parece ser tão mais real do que uma
simples memória, a vontade de trazê-la de volta é angustiante. É como uma
tentativa muito forte de ressuscitar alguém que já está gelado de morte.
Sim, o passado mora longe demais. E pensar em qualquer coisa
que poderia ter sido feito diferente para que ele não fosse passado, apesar de ser
às vezes um exercício constante, é só uma receita para trazer mais dor.
Algumas dores desse passado, talvez não tenham sido curadas
desse tanto. As cicatrizes continuam abertas a seu modo. E qualquer movimento
pode reabrir a tal ferida e demorar o dobro para que se faça uma nova pele,
fina e frágil. E é melhor que o sangue não jorre.
Às vezes tudo o que se quer é um pó mágico para dormir e
acordar naquele dia. Ou uma outra magia, que faça esquecer. Em algumas circunstâncias,
o passado é cruel demais para ainda habitar nossa memória. Nossas paredes
brancas e nossas noites vazias. Uma dose para o esquecimento eterno. E noites
de paz, por favor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário