Céu escuro. Nuvens cinzas insistem em cobrir o azul. É
possível enxergar algum azul, mas o cinza persiste.
Esse céu me é familiar. Já o vi em alguns sonhos. O cenário
era outro, mas o céu era esse. Era uma praia e havia um anjo. Suas asas eram negras.
Ele me observava, de longe, agachado em uma pedra, no mar. Entre nós, nada além
do silêncio.
Esse sonho se repetiu uma, duas vezes. O tal anjo nunca me
disse nada. Os únicos barulhos existentes eram do vento, vez ou outras das
ondas e do meu pensamento incessante.
Não ousei dirigir-lhe a palavra. Nada disse, ou indaguei. Estava
lá. Eu, o mar, o anjo negro, as nuvens. Por alguns momentos, me esqueci até dos
meus próprios pensamentos. Talvez fosse uma forma de aprender a ouvir o
silêncio. Talvez, uma oportunidade de aprender a lidar com os meus próprios
demônios.
Mas era um anjo. E seu rosto me era familiar. Mas meus olhos se recusavam a querer reconhece-lo. Apenas o observavam,
curiosos, e em silêncio.
A praia, extensa e deserta, parecia um infinito de
uma coisa só. Não havia espaço para nada além do que lá já existia. Era tudo
perfeito dentro de uma grande incompreensão. E por hora, nem incompreensão havia. Não havia
nada. Apenas o vazio habitado pelas pedras. Pela areia. Pelo anjo de asas
negras. Por mim.
Não me restava nada a não ser caminhar. Não sentia calor nem
frio. Havia algo de confortante.
Tentei me aproximar, mas à medida que eu caminhava em sua
direção, ele simplesmente aparecia em outro lugar. Longe. Então entendi que
aquele espaço não podia ser encurtado. Entendi que não havia nada que pudesse
compreender apesar de tudo parecer incompreensível demais.
Não me opus. Não relutei. Apenas estive.
Naquele lugar de nuvens cinzas, de barulho das ondas, de um
anjo de asas negras. Onde a única coisa que reinava absolutamente era o
silêncio. Silenciei-me.
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