terça-feira, 3 de setembro de 2024

 O gadget no meu pulso vibra duas vezes. Titubeio, mas finalmente decido ver a hora que marca mais de 10 da manhã. 2 horas mais tarde do previsto. E lá sei foi, também, a aula de sapateado. Mais uma. Tento responder mensagens no whatsapp...  meus dedos não respondm. A camiseta encharcada de suor gruda gelada na pele, resolvo levantar e por em prática o resto da manhã. Iogurte com banana, morango e granola. Ovos mexidos com espinafre e queijo branco (droga, mais um creme de ricota estragou ainda pela metade na geladeira) na tortilha (nome bonito praquele rap10 que vende no mercado). Me levanto sentindo frio, e ainda reverberando o sonho que estava tendo quando acordei. Testemunha ocular de um crime (não necessariamente! Só estive na casa das moças mortas e vi que o marido/pai das moças estava em casa. Saí correndo, peguei meu carro – aquele ford ka de 2019 – que atola num monte de terra, mas consigo sair. Não sem que antes ele me veja. Mas ele só me viu no segundo take. Pego a estrada pra Uberlândia e quase passo adiante do pedágio. Dou uma rezinha, mas tô numa moto. Falo pra moça que posso estar sendo perseguida. Ela me grita o telefone dela várias vezes. 9.... 8090. Me lembro do final. Chego finalmente na casa da Letícia. Vejo Júlia, Isa ora bebê, ora hoje. Mas teve a outra parte do sonho... não me recordo se foi antes ou depois.... antes eu acredito. A parte que eu estava em Araguari e talvez tenha feito uma audição [ou só uma aula de sapateado[?] talvez.]. no centro da cidade, rua, eu aparentemente meio perdida. Ou não. Encontro a tia Alexandra, começamos a conversar e falo muito sobre o meu avô. Sobre como eu ainda não consegui digerir/superar... choro... falo umas palavras bonitas e aparentemente, decido que vou escrever um livro, ou fazer um espetáculo... não me lembro, mas algo de arte viria dali. Não me recordo de uma só palavra. Aí teve ela, a tia Alexandra, me oferecer uma carona pra Uberlândia, talvez. E aí, a gente passou num lugar, uma loja antes. Eu precisava gravar a moça e falar sobre a nova coleção de enxoval de bebê. Errei o take... mas gravei algo importante antes do que precisava. Encontro o Marcão [nossa, de uma produtora de anos atrás] diz que se for só o áudio, dá pra gravar por cima. Começo a gravar, algo dá meio errado, mas sei que quando comecei a gravar a cena mesmo, já tava no REC quando ouvi algo e tive a certeza de que tinha um crime envolvido. E era naquele lugar onde era o stúdio A. a sala de baixo, que ninguém gostava de fazer aula nela. Acho que é a partir daí que vou até a casa das moças mortas. As moças sendo tia Alexandra e Giovana, o marido/pai, Gianfredo, reputação ilibada, mas ele tava na casa, eu vi. Vi e saí correndo. Take 2. Saio correndo, chaves nas portas, tudo certo. Ele me vê tentando fazer o carro passar pelo monte de terra, moto, pedágio, 9...... 8990, casa da Letícia. Não trouxe nenhuma roupa. Ela me mostra uma gaveta de roupas que ela tinha acabado de separar para doar. Chegam minha mãe, meus irmãos, meu primo Murilo. Conto pra todo mundo o que tá acontecendo e enquanto eu vou falando, vou me arrependendo de ter ido pra lá. Coloquei todos em risco e é de mim que o cara tá atrás. Vejo ele passando de carro em frente à casa – como ele entrou no condomínio. Digo que é ele. Meu telefone toca, ele fala qualquer coisa e desliga. Tem o nome salvo, mas tava como Gofredo, falvez... Helil chega, conversamos todos e decidimos ir pra Araguari. Tiro roupa e ponho roupa – experimentando as da Letícia, que estavam pra doação. Pegamos uma estrada de tobogã, chegamos em Araguari. Na porta da casa – a antiga casa da minha mãe, paramos o carro, tiramos os gatos. Chico foge, entra numa casa – a casa da frente, a vizinha e o irmão brincam, um deles pega o Chico e me devolve. Digo que faltou a pochete – o menino me manda a pochete. Mais carros param em frente à casa. As irmãs do Hélio. Vejo a Eliane, Graça, Clarete, Vanda, Bernadete. Hélio berrando do outro lado da rua falando algo sobre o marido da Bernadete que, sai do carro e começa uma gritaria meio generalizada. Intervenho, peço, grito, digo que ali não podia ter esse tipo de comportamento, que entrássemos todos, e falássemos um de casa vez. Entramos na casa – aquela casa terrível, sempre em reforma, pelo portãozinho do lado, que dá acesso ao corredor que vai até o quintal, mas antes tem a entrada da cozinha. A Aline, prima da Giovana, e acho que suas duas irmãs estão comigo. Mas vou me comunicando com a Aline, perguntando se ela se lembrava daquele corredor, daquela entrada, daquela casa... as respostas eram meio evasivas. Finalmente dentro da casa. Irmãs, cunhando e irmão (já falecido) do Hélio. Meus irmãos, minha mãe, Letícia, meu vô, minha vó, os filhos da Maria José – todos ainda adolescentes, nos cumprimentamos. Na sala, decido colocar a regra das coisas. Uma pessoa fala por vez. Ninguém grita. Hélio decide que todos devem se apresentar porque nem todos se conhecem. Penso em contar sobre o cara que tá me perseguindo, minha mãe me desencoraja... diz que posso vender essa informação em algum momento. Ou eu mesma fazer um documentário falando sobre isso. Vou então para o quarto, o que era meu mesmo. Hélio chorando encostado na parede da janela. Vou até ele, digo que é isso, que ia doer a separação, mas que ia passar. Volto à sala e digo a todos que a vontade da minha mãe deveria ser respeitada. Meu avô (ou minha avó?) questiona, diz que não tem que separar, digo que a decisão dela já estava tomada e que era isso... essa era a vida. Tava rolando uma música, no meu computador, meu irmão que tava colocando. Proponho que então, cada um pusesse uma música. Falam em 2 ou 3, tudo bem... nossa, o áudio terrível do computador. Vamos todos pra cozinha? Traz o computador, talvez colocando aqui em cima do armário. Putz, o cabo da fonte arrebentou. Não precisa ficar culpada não – falei pra alguém que tinha trazido o computador – já tava todo cagado mesmo. Cadê a JBL? Tem que pegar o carregador. Vou até o quintal procurar. Entro nos quartinhos do fundo. Estão em reforma, encosto na porta que divide os 2 quartinhos, tinha visto pela fresta as madeiras lá dentro, segurando o teto, enconsto na porta pra abrir, tinta fresca. Volto. Vejo sobre a máquina de lavar um dispositivo que parece ser o carregador da JBL. Só preciso do cabo. Do outro lado do tanque, uma moça... não me recordo quem...  Abro a tampa da máquina pra tirar o cabo. Um tio vem falar que o celular tava carregando. Vou organizando cabo pra cá, cabo pra lá, a máquina cheia deroupa e água e sãbao em pó começa a bater, para a máquina, vai molhar os cabos. Vou até o quintal mesmo. Parte dele cimentado. Meu irmão tava comigo, confidencio a ele que durante muito tempo tive medo daquele quintal, especialmente à noite. Olho em direção a casa, e a parte da cozinha estava toda aberta, como em construção. Uma menina lá em cima, encostada numa viga, perto da beirada. Vou até ela, brinco, a mãe, acho que era a moça que tava encostada no tanque vai também. Volto com o cabo para a cozinha. Tudo uma zona. Tinha caído feijão preto do prato de uma das tias que tava sentada no degrau da sala que dava pra cozinha, digo pra não se preocupar que traria um pano. Putz, esqueci o pano. Mas ela já se levantou e já tá todo mundo em volta da mesa, uns sentados, outros de pé. O assunto passa a ser o stúdio A, a escola de dança, daquela tia Alexandra, que frequentei por anos. minha avó defende que a escola ainda dá muito dinheiro. Refuto dizendo que já, há muito tempo não era a mesma coisa, mas que o dinheiro vinha da família da tia Alexandra e que talvez por isso ela tivesse sido morta. Vamos cada um escolher a música?) Acordo. Duas horas depois do previsto. Ensopada. Tento me organizar no tempo, no iogurte, no morango, banana, na roupa na máquina desde ontem que preciso apertar o botão pra voltar a bater, escrever o sonho, café, ovo mexido com espinafre - espinafre primeiro, quero a tortilha crocante, o queijo branco amassado pela mão. Tô inchada. Meus olhos... preciso escrever o sonho. Escrevo. Mas antes desse sonho teve o outro, do ano-novo. Em Uberlândia, na casa do Geleia. Nossa... outra epopeia. Não tenho forças, nem tempo pra escrever sobre ele agora. E me recordo do que queria escrever am princípio: logo que acordo, ritual diário: pegar a garrafa de água, abrir a gaveta dos remédios, duas cápsulas de venlafaxina, 150mg cada. A camiseta encharcada grudada no corpo me fazendo sentir frio. A gaveta repleta de caixas e blister e outros remédios, outras tentativas de contorno. Tiro uma foto: uma de mim, ensopada – não dá pra ver na foto... outra da gaveta e todos os remédios.




sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Vejo a hora passar como quem já não espera mais nada.

A chuva cai, o sol nasce e se põe.

Contento-me em olhar os ponteiros.

Os das horas, dos dias, dos anos.

À sombra de sonhos e vontades, que se perdem em meio a delírios.

Da vida, só espero a morte.

Jazigo em poeira de estrelas, já sem brilho.

Espero contar com o ontem.

Desejo morto de quem já não enxerga a luz do dia.

Maldição das horas que insistem em não parar.

Ah, os ponteiros.

Tortos, soturnos, presos em seu próprio tempo.

Corroem por dentro sonhos de quem não sabe mais o que sonhar.

quarta-feira, 24 de junho de 2020


O dia começou atropelado e antes do meio dia, já quis morrer algumas vezes.
Já quis silêncio, escuro, lugar pra me aninhar e esperar a vida passar.
Quis desistir de tudo, quebrar o apartamento, gritar aos quatro ventos que nada mais faz sentido.
Gritei e quebrei tudo. Dentro.
Cacos despedaçados ao som de zunidos incessantes no interior de mim.
Perfurei veias em pensamento e deixei jorrar o sangue nesse salão de incertezas.
Por fim, dancei valsa com fantasmas que o habitam.

terça-feira, 9 de junho de 2020

Os remédios já não fazem mais efeito.

Falta vontade. Sobra silêncio.

Para fora do corpo, nada.

Dentro, vulcão em erupção.

Lava incandescente, quente e raivosa.

Campo minado. Bomba relógio.

Nenhuma palavra brota da boca.

Nascente seca. Silêncio paralisante.

Olhar perdido no caos de dentro.

Tudo se mistura ao sangue que sai da veia que rompe.

Sangue, suor, lágrimas, silêncio.


sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Abdução


Me abduzi de mim mesma, mas ainda sinto meu corpo.
As plantas da varanda secaram, mesmo regadas em considerável frequência.
Parecem estar dando sinais sobre prazo de validade. 
Talvez sobre o meu próprio, quem sabe.
Faz sentido, pensando na secura de minha própria garganta, apesar dos mais de 3 litros d'água bebidos hoje, até agora.
E na boca, um gosto amargo de nada. Que nada consegue tirar.
Quero dormir, mas não consigo.
As pílulas são fracas demais e não me fazem dormir o suficiente.
Dormir pra acordar em outra dimensão. Outro tempo. Outro ser. Outro seu.
As plantas querem dizer algo.
Tá quente aqui.
É o prazo de validade? O meu? O delas?
Essa foi mais uma daquelas noites: sonhos perturbadores nas poucas horas de olhos fechados.
Sustos, surtos, vida, morte.
Não sinto o gosto da água. Não sinto o cheiro do incenso.
Me toco mas não me sinto.
Descamo. Condeno.
Sinto que me abduzi de mim mesma. E já não sinto mais o meu corpo.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019


torpe
   sinto 
      muito
         nada
            pele
               pelo
                  corto
                     coito
                        dilacero
                           sinto
                              alma
                                 inquieta
                                    penada
                                       silenciosa
                                          ruídos
                                             incessantes
                                                pressa
                                                   presa
                                                      prendo
                                                         amarro
                                                            solto
                                                               grito
                                                                  dentro
                                                                     fora
                                                                        falta
                                                                           pele

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Entremundos

Estou aqui. Pés fincados no chão. Olhando o mundo que construí. Mundo... muro... Construí?
Estou ali. Braços soltos no ar. Olhando para um mundo que não vivi. Seria ainda ou ainda será?
Estive lá. Sobrevoando memórias, caminhando sob a névoa em sonhos recorrentes. Revisitando sonhos. Repensando vida. Requerendo o que não quis.
Estou aqui. Presa entre mundos, buracos na parede, estado gasoso em liquefação. Quente e frio. Terra e ar. Rarefeito.
Vejo, mas não enxergo. Um ser inóspito habitante em mim.
Estou aqui, estou ali, estive lá.

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Mosto

As cordas das relações estão puídas.
Convivência, quase insuportável para uns.
Insustentável para outros.
Flerto com os piores extremos de mim.
Reconheço a pequenez. enxergo um abismo profundo.
Estado bruto embriagado. Deuses da carnificina. Lua gélida. pálida. nada ilumina.
Gritar a voz rouca. os agudos que ferem dentro. Pontiagudos e imprecisos.
sangue derramado feito vinho.
Fermentado, grosso, amargo.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

re-corrente

objeto qualquer. 
pedra. nó. coisa inanimada.
sem vida.  
onde não se sabe bem. 
coisa impedidora.
de fala. riso. ar. vontade. 
coisa qualquer. 
causadora de amargamento.
ressecadura. 
travação de mandíbula. 
acinzamento de vista. 
turvo. nevoeiro escuro. 
cenário do sonho de sempre.
escuro. outra vida. morte. 


quinta-feira, 18 de outubro de 2018

deus, quem?


Sou filha da dor. De uma dor.
Uma dor sentida por uma mãe que não abortou. Mas o pai sim. Um genitor que não quis saber da cria. Que pediu que ela [a mãe] abortasse, em nome de sua família.
Sua família.
Tenho uma “irmã” que data a mesma idade que eu.
Sou filha de uma dor que, a princípio, não deveria ser minha. Mas trago em mim, a dor sentida pela minha mãe.
Minha mãe não me abortou. Meu “pai” sim. A ele foi dado o direito de escolher não querer ter a filha. Filha eu, que somo na estatística dos mais de 5 milhões de filhos abortados pelos pais nesse país.
Filhos que seguem vivos. Mães que seguem sendo pães.
Houve então um outro homem, que durante todos os anos que esteve com minha mãe, fazia questão de lembrá-la do quão bom era ele, por ter “aceitado” então, essa mulher que já tinha uma filha.
A esse homem, sou grata. Mas minha gratidão não me cega diante das minhas críticas. Nem da dor que senti em todas as brigas, ameaças e agressões – mais verbais, que físicas, é fato – ainda assim, agressões.
Sou branca, privilegiada. Tive uma avó, que estudou até a quarta série, e que talvez por isso, tenha feito o que pôde para me matricular em boas escolas, nas aulas de inglês, de balé, de teatro.
Tive um avô que me alfabetizou em casa, me incentivava à leitura, que nunca ignorou minhas paixões e me fez acreditar que tinha asas. Porque mesmo que o voo doesse, ele sempre deixou claro que o ninho “do vô” estaria sempre pronto à minha espera, caso fosse preciso.
Não foi preciso. Ainda.
Luto com forças que nem sei de onde. E são muitas as vezes, como agora, que as forças me faltam. Me faltam, me sinto vazia, sozinha e amedrontada.
Ao homem que “me fez”, não tenho nem o que dizer, a não ser palavras como abandono e covardia.
Ao segundo, o que me criou, repito que sou grata. Mas ele só não me fez descrer de deus porque em algum momento de minha vida eu consegui entender que o deus pregado por ele, era muito diferente do qual eu acreditava.
Eu, se vem ao caso, acredito em um deus de amor. De tolerância, de compaixão. E não de punições e pragas rogadas. Não de julgamentos e acusações. Acredito, meu senhor, que deus é um cara bacana, que pregou nada menos que o amor. E por mais vazia que me sinta hoje, ainda acredito no amor que podemos sentir uns pelos outros.
E é exatamente por isso que discordo de políticas que sejam feitas a partir desse deus, defensor da moral e da ética controversa. Do deus presente na missa [ou no culto] e ausente no irmão que passa por você na rua.
Desacredito de qualquer bandeira levantada para um deus. Pois acredito que o deus dessa bandeira não é o que prega o amor, mas o ego e a intolerância. É fácil comer hóstia no domingo às 19h e agredir a família, no mesmo domingo, às 21h.
Acredito no amor. E na arte. Entendo que as possibilidades não estão disponíveis para todos. E que é preciso haver coragem para seguirmos vivos. E olha, ainda desconheço a força que faz com que tantos queiram existir nesse mundo mesquinho de julgamentos e privilégios.
Converso com alguns. Ouço suas histórias. Escuto, me comovo, e infelizmente é tudo o que consigo fazer agora. Me dói ser só ouvidos, mesmo tendo ouvido de tantos que isso basta. E por isso, nunca os deixo ir sem um abraço. Um abraço. Ouvidos e abraço: vá em paz. É o que sempre digo.
O Transeuntes, meu projeto eternamente engavetado, nasceu assim. Das histórias que muitos têm para contar e poucos querem ouvir.
Hoje, além do meu próprio vazio, sinto medo. Medo dessas pessoas que dizem ser “pela família”. Desses que bradam “deus acima de tudo”, e que não conseguem diferenciar deus das suas próprias crenças. Dos seus próprios egos.