Vejo a hora passar como quem já não espera mais nada.
A chuva cai, o sol nasce e se põe.
Contento-me em olhar os ponteiros.
Os das horas, dos dias, dos anos.
À sombra de sonhos e vontades, que se perdem em meio a
delírios.
Da vida, só espero a morte.
Jazigo em poeira de estrelas, já sem brilho.
Espero contar com o ontem.
Desejo morto de quem já não enxerga a luz do dia.
Maldição das horas que insistem em não parar.
Ah, os ponteiros.
Tortos, soturnos, presos em seu próprio tempo.
Corroem por dentro sonhos de quem não sabe mais o que
sonhar.